Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2012

Canto

Em cada canto em cada tanto tem um tempo um vento um momento um tormento em cada canto da casa sem asa em cada um em cada dois em cada três em cada quatro dentro de um quarto um canto apenas um. Em cada face em cada fase fazendo de um só canto um nó em cada nada em cada escada para baixo para cima estagnada uma hora anda nem que seja nos sonhos na cama que não resiste cantando os cantos de alegrias de tristezas incertezas alegorias o canto do espanto do desencanto cantores de dores de cantos ardores com a solidão vizinha carregando o manto em qualquer canto a alma,  o quebranto você no seu canto e eu no meu e o abandono de um beijo uma conversa uma trégua um canto transverso que os males espanta. cantigas de ninar para animar o espaço inconstante, relutante bem fazer  de mudar de canto pelo menos quatro dentro de um quarto camisa de força  do espaço físico, tísico visando à libertação do interior do canto do ser d

Excrescência

Essa abstinência de contato com o que existe com o que resiste com o que persiste nesta altivez despropositada essa relutância em ver que sozinho nada se faz de nada se é capaz porque viver é depender do carteiro que traz as encomendas do porteiro que recebe os pacotes das pessoas que os enviam  do motorista que leva pessoas a seus destinos do trocador de ônibus que vende a passagem do passante que informa um trajeto qualquer mas este olhar  com soberbana vigilância! ha ha ha, rindo à toa achando que tudo pode aonde foi amarrar seu bode? afinal do início ao final deus criou os homens para um propósito  natal fatal entre gargalhadas e trapalhadas neste alheamento arrogante que um dia aprende a deixar de ser  seu próprio rival nesta espiral da vida que respira que espirra. É um atrevimento ignorar o vizinho! esse orgulho é um entulho  é um disparate, basta! de viver na excrescência audiovisual da autossuficiência. Raquel Abrantes

Se

Se é um momento que não existe. Raquel Abrantes

Aderência

No sobe e desce no vaivém de nossos momentos  aderentes ardentes a ponta faísca por dentro explora o céu aberto e estrelado  a cada desbravada descoberta  do ser interior  que eu mesma desconheço. Raquel Abrantes

Raiar

o dia me chamou com seu primeiro raio de sol e não pude resistir ao seu encontro livre leve solto na luz no ar no mar que bela visão do Rio de Janeiro que tenho o ano inteiro trouxe paz e alegria a um coração alheio ao vento ao tempo ao momento caminhar na areia como uma sereia que acabou de ganhar as próprias pernas arranhando a sola dos pés animados que trouxeram consigo grão a grão no trajeto conhecido pelo chão vivido em busca de um jardim ainda não amanhecido faltaram as rosas mesmo com seus espinhos bem-vindos como a dor que os olhos sentem ao abrirem-se para um novo dia as pessoas da mesma via sempre têm algo a nos dar nem que seja um olhar, um olá uma troca de palavras para começar a rotina que se repete com sua formosura peculiar e a senhora que passou do meu lado puxou conversa, de bom grado vendia pano bordado me encantei e parei a simplicidade de seu jeito me causou um efeito e até seu telefone peguei. a moça com o cachorro que na

Estrela-guia

Elegante e fina com seus olhos de felina mas de ameaça nada há vive em eterno estado de graça em seus cordões dourados que lhe caem abençoados veio para trazer a paz e, quando cansa, ainda faz mais pelos outros por todos para tudo é uma fortaleza, meu escudo contra todas as improcedências age com calma, extrema paciência seu colo, sem dono aparente tem mil pretendentes é uma chuva de lágrimas emoção pura, sem lástima e dela o orgulho que tenho nesta vida, neste desenho é inexprimível, indizível de tanto amor, de tanto calor que grita, cala, sente traz aquele abraço que afaga toda gente passo a passo lado a lado. Uma alma imperativa veio pôr ordem na vida de todos, sempre querida mensageira de luz imponente, parece estridente mas é puro riso agregador envolvente. Mãe de brilhantes instantes de momentos desesperantes oscilante porque preocupada como responsável pela jornada em sua encantadora dispersão tem esta visão, quem diria  por ser uma estre

Coisas

às vezes fazemos coisas demais às vezes, de menos mas sempre fazemos algo para estar onde estamos fazemos coisas por nós deixamos de cuidar de nós ajudamos aos outros quando podemos e, mesmo assim, também esquecemos só que tudo tem seu momento  como plantamos uma flor  e ela tem seu tempo para crescer também temos cada um o nosso próprio tempo de aprender por isso muitas vezes precisamos de alguém e a pessoa não pode corresponder porque não foi possível a ela entender ou, naquele momento, nada mais tinha a oferecer e, nós mesmos, quantas vezes, fizemos tão pouco pelos outros por não nos considerarmos capazes ou por acharmos que não poderíamos acudi-los da maneira que deveríamos pode ser difícil aceitar a falta de quem se precisa e, apesar de ser penoso perdoar, é uma compreensão de vida porque todos damos o que podemos e mais árduo que perceber a limitação alheia  é aceitar a falha pessoal, que é uma cadeia quando deixamos uma pessoa que nos ama

Edredom

esse céu salpicado de luzes me lembra um edredom que tive quando criança fofinho como as nuvens e agarradinho a mim Raquel Abrantes

Consagração

Parte 1 Quando menos se espera um pássaro pousa na janela trazendo harmonia ao nascer do dia a imagem fica na mente devido à sintonia existente num momento inusitado que vem até nós de bom grado e, no outro dia, sem esperar lá está ele de novo, a nos espiar na recíproca verdadeira nesta terra derradeira dos muitos pássaros que voam sobem descem vivem morrem sem conseguir transmitir alegria a companhia, o apoio na travessia pois é para onde não olhamos que, distraídos, percebemos onde estamos e a troca e a sinergia e a beleza e o amor que chega sem voar sorrateiramente porque o sentimento oferecido é o que dá o sentido do colo, do abrigo, do amigo Lembra que não estamos sozinhos que temos o ombro do parceiro o doar-se por inteiro Parte 2 Mais uma vez se fez dia e nada demais parecia apenas aquele vício da consciência quando saímos da dormência somente um bom dia banal segundo a norma convencional mas a desconcentração tem o poder da revelação;

Galho dançante

Quando notei  o descampado à minha frente imaginei que alguém como eu que ali viveu um dia, durante algum tempo segundo o momento que vivia pensou: quero ficar por aqui e começou os preparativos para a nova moradia. Precisou tratar o chão arrancou as ervas daninhas igualou o solo com as mãos e ferramentas e máquinas para criar o fundamento Colocou um tijolo e o cimento depois outro tijolo até erguer uma parede formar uma estrutura uma casa construir um sonho uma vida, já que viver requer pensar para cima. Fez uma guarita colocou as portas e as janelas para a entrada e a proteção do sol e do vento colocou telha sobre telha antevendo tempestades trovoadas e abrigou a família. Embelezou sua vista para que, a cada amanhecer, o jardim cultivado pudesse transmitir um belo recado: de flores, de cores, de odores junto à cadeira de balanço  pendurada no galho dançante  e transpirante no correr do dia  em uma árvore que precedeu esta e muitas

Onipotente

Agradeço não só pela comida mas também pela vida pela família de sangue, de carne, de osso de alegria, de desgosto porque tudo anda na mesma via e juntos buscamos a harmonia nesta transferência de paz de calor, de amor capaz  de ser presente na dor que leva, traz, transforma cria uma família nova cedo ou mesmo tardia que se revela na poesia Raquel Abrantes