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Mostrando postagens de setembro, 2012

Presente

a gente faz planos todo o tempo desde as primeiras percepções da infância fazemos planos, como criança começamos pelos mais simples como ir à praia no fim de semana passar o domingo na casa da avó brincar no parque com os amigos e, nessa fase infante, ainda não é possível entender que muitos planos excitantes não chegam a acontecer pelos imprevistos mais vistos como a chuva que nubla a paisagem como o trânsito que impede a passagem como o resfriado resultado da friagem e vamos replanejando tentando evitar novas frustrações que desconstroem idealizações mas o futuro ao acaso pertence e nada de negativo nisso há sem saber a gente perde para ganhar e os muitos planos frustrados nos levam a contentamentos nunca pensados que tornam a vida uma descoberta incessante do próximo instante em um ciclo que se completa espontaneamente se integra ao permitir florescer  as possibilidades do crescer como a vida que brota dentro da gente e vence todos os planos da mente

Som

o som que transpassa  as batidas ritmadas e aceleradas do coração inquieto lembra outros corações transtornados que transcenderam um momento uma fase uma crase imposta pela regra da gramática tão dispensável que de nada serve ao sentimento real ao sentido do dizer porque o som diz mais que mil preposições que todas as obrigações já que o sentido está no verso no reverso no transverso no gesto no sonoro acalento do diverso na revisão  do íntimo perverso no ínfimo universo de cada ser despreparado para as facetas trancadas esquecidas de uma vida despercebida pela rapidez urgente de uma solução rimada cobrada purista  individualista que passa que perde que não percebe a graça de uma vírgula uma pausa um silêncio que diz: pare e olhe porque a beleza não corre Raquel Abrantes

O amor

o amor surge insólito inesperado como uma rajada de vento acalorada abraçando os poros arrepiados num dia de verão fazendo escorrer o suor fragrante bendito do momento encantado até a brisa refrescante ao entardecer sombrio de cada ser pondo à prova a delícia dos prévios instantes ainda indecifrados de uma conjuntura misteriosa; faça sol, está bem faça chuva, talvez nas trovoadas já tão certas quanto a noite a magnitude é posta a um fio a um sopro a um não sei o quanto pode sustentar-se num passeio ao luar oculto ao mar turbulento suportável enquanto pode enquanto amor enquanto o ar movimenta-se até tornar-se inerte perdendo a febre com a brisa que despede-se por sua própria natureza inconstante Raquel Abrantes

Fumo

esta luz que acende o meu cigarro faísca a palha queima o fumo e enfeita o ar invisível com ondulações acinzentadas de conforto com a ajuda dos dedos amarelados marcados pelo resultado do prazer fugaz perseguido em várias frentes como esta finalizada com as cinzas postas no cinzeiro completo e satisfeito Raquel Abrantes

Quando

Quando ao sentar na varanda de um fim de tarde uma janela ao longe reflete o sol mais que as outras noto a singularidade de um momento que se esvai por uma leve distração Quando volto a buscar o brilho já não destaca aquela forma agora tão simples quanto as outras sem perceber o motivo como o sol que se põe trazendo a igualdade a opacidade prévia da noite Quando as luzes artificiais iluminam todas as janelas da cidade sem critério sem mistério sem mérito apenas um artifício para enxergar na escuridão  Raquel Abrantes

A cidade

os ruídos da cidade circulante perturbadora também têm seus vazios dando espaço ao canto dos pássaros que ainda existem acima do asfalto continuamente maltratado pela velocidade cotidiana de uma meta perversa de um soluço a ser superado de uma perda presente rumo ao futuro incerto infinitamente duvidoso duvidosamente planejado verdadeiramente esperado apesar do atual momento que já passou o canto já passou e o asfalto estanque não permite a passagem nos cruzamentos das vidas errantes gritantes e escassas de melodia  Raquel Abrantes

Experiência

somente uma experiência viva pode nos lembrar o calor do chocolate amaciando a garganta numa noite fria linda exuberante que de tão bela o tempo passa despercebido sorrateiro até o admirar do primeiro feixe de luz de outro dia Raquel Abrantes

Trilogia

muitos procuram definir uns, perdidos sem saber o que, tentam imaginar e elaborar prever o acontecimento ansiosamente esperado temerosamente evitado subitamente conhecido cada caso é um outros maldizem a conquista maculados com o fim da sensação em carne viva química recordação dos poros abertos expostos vazios há quem brilhe em todo canto pelo encantamento do transladar conjunto à parte do fluxo cotidiano e uma parte segue vibrando por esta fascinação indizível puramente vivível e revivível artes e artistas transferem a essência permitem sentir outra vez a satisfação da adjacência a experiência magnífica como a tez musicalmente expressa com poesia, sem pressa fotografada pelos sentidos trilogia vívida em um único corpo além do próprio o reforço de um sonho intimamente crível de deuses caídos de movimentos contíguos de seres finitos infinitamente possível Raquel Abrantes