Excrescência
Essa abstinência de contato
com o que existe
com o que resiste
com o que persiste
nesta altivez despropositada
essa relutância em ver
que sozinho nada se faz
de nada se é capaz
porque viver é depender
do carteiro que traz as encomendas
do porteiro que recebe os pacotes
das pessoas que os enviam
do motorista que leva pessoas a seus destinos
do trocador de ônibus que vende a passagem
do passante que informa um trajeto qualquer
mas este olhar
com soberbana vigilância!
ha ha ha, rindo à toa
achando que tudo pode
aonde foi amarrar seu bode?
afinal
do início ao final
deus criou os homens
para um propósito
natal
fatal
entre gargalhadas
e trapalhadas
neste alheamento
arrogante
que um dia aprende
a deixar de ser
seu próprio rival
nesta espiral
da vida
que respira
que espirra.
É um atrevimento ignorar o vizinho!
esse orgulho é um entulho
é um disparate, basta!
de viver na excrescência
audiovisual da autossuficiência.
Raquel Abrantes
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