notícias à-toa

Por Ricardo Pereira*

Escreva, ela me pede, é simples, você tem meu endereço, papel, caneta, sei onde os guarda, na segunda gaveta junto dos poemas que não me disse, das fotos que não ficaram boas, lugares que ficou de me levar. Não me fale do que tem ou não saudade, prefiro notícias à-toa, nem boas nem más. Conte-me que hora tem acordado, quero saber se ainda temos os mesmos horários, de que lado da cama tem dormido agora que não a divide mais comigo. Quantos cigarros têm fumado por dia, quanto tempo demora para uma nova poesia e o seu romance – em que pé está? Não esquece de me avisar quando será publicado. Falando em livros o que tem lido? Algum novo autor que mereça ser conhecido? Tem uma livraria perto de onde trabalho, às vezes passo por lá carregando você comigo, meu gosto e o seu foram ficando tão parecidos. Costumo ouvir nossos discos enquanto preparo o jantar, você abria uma garrafa de vinho, eu fazia uma salada de tudo o que a gente gostava, deu vontade de perguntar se tem se alimentado direito, fiquei de ensinar você a cozinhar. Tem ido ao cinema? Voltou ao nosso bar? Sabe alguma piada que possa me contar? Eu quero rir, eu quero ficar sem ar, eu quero me vestir de uma cor que sei que ia gostar. Mas não me escreva uma linha sequer sobre a mulher com quem você está, não me diga nada sobre a cor de seus cabelos, os móveis que ela mudou de lugar, quero tudo igual como me lembro, com a torneira da pia do banheiro ainda por consertar.

*Outros textos do escritor em http://puro-e-obsceno.blogspot.com.br/

Comentários

  1. Ricardo,

    Obrigada pela participação! Adoro esse texto, me inspira muito. Como tudo que você escreve...

    Beijos

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  2. Eu que agradeço. Ver um texto meu publicado no blog de uma escritora com tamanha sensibilidade só me envaidece.

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