Cores e Dores

Era toda a dureza das expressões tipicamente masculinas que arranhava a paz de Linda. Fosse apenas por um olhar faminto, daquela fome comum a homens e mulheres que se desejam, e levem peremptoriamente à formação de um casal, depois uma família. As intenções, contudo, eram embuçadas pelas memórias torrenciais da agressividade do homem. A agressividade da cobiça por sua beleza, que remexia suas entranhas cena a cena daquele dia inseparável de sua existência.

Linda dormia com sua camisola de laços cor-de-rosa quando seu tio girou a maçaneta. A luz do corredor gerou estranhamento do sono de uma menina de 12 anos, já entupida de amores cinematográficos, mas ainda confortada pelo urso de pelúcia Geraldo, que velava seus sonhos toda noite. Seus pais viajaram e o tio se ofereceu prontamente para servir de babá pelo período de 15 dias corridos. Linda adorava o tio Fred, que costumava levá-la a passeios, jardins zoológicos, parques de diversões e circos desde sua primeira infância.

Frederico casou-se uma vez, mas estava separado dois anos depois, sem deixar filhos como testemunhas do relacionamento corriqueiro. A beleza da sobrinha o atormentava mais a cada aniversário dela e, na primeira noite de sua guarda, o furor de seus hormônios precisava ser liberado, primeiro por palavras, mais tarde pela consumação física.

Ele sentou ao pé da cama e Linda perguntou o que tinha acontecido. Você está bem, minha Linda? E o seu nome serviu-lhe bem a uma dupla interpretação. O equívoco tormentoso da paixão proibida anunciava-se assim através do nome de batismo. Vim ver como você estava, e suas mãos percorreram para cima e para baixo as pernas da menina, como um tórrido e inocente carinho.

Linda, eu preciso te dizer uma coisa, O que, tio?, O que vou te dizer precisa ficar como um segredo muito bem guardado, só entre nós. Você sabe guardar segredos? Sei, sim. Eu te amo. Eu também te amo, tio. Linda, eu te amo como um homem ama uma mulher, disse o charmoso quarentão, de cabelos pretos e lisos salpicados na testa de acentuadas expressões. Ele coçava o queixo abrindo rastros em sua densa barba enquanto Linda era incapaz de assimilar tal declaração. Suas mãos subiram até a cintura da sobrinha e seus lábios beijaram primeiro sua testa, o que a fez sorrir. As próximas foram as bochechas, então o pescoço, repetidamente e brevemente, e seus dedos iniciaram cócegas por baixo da camisola da menina, que reagiu com sua infantilidade, sem poder imaginar a sucessão dos fatos.

Mas, tio, você é meu tio. Não podemos nos casar. Mas podemos nos amar, minha menina, como os grandes amores dos filmes, amores proibidos e secretos, que precisam resistir de alguma forma às reprovações dos outros. Vou te mostrar como podemos sentir todo esse amor, com muito carinho, boas sensações, prometo que ficará muito feliz... na conversa sedutora de um tio glorificado.

Em sua mão grande e áspera cabia o rosto inteiro de Linda, menina desprotegida, que esperava pelos movimentos seguintes daquela surpresa excitante. Ela nunca havia tido tanta certeza de seus atributos físicos e imaginava ser uma verdadeira mulher.

Seus beijos atingiram a boca da menina e seu membro já não cabia nas calças. As mesmas mãos ásperas afastaram o lençol do corpo bem torneado e abriram lentamente a camisola. A saliva passou por todo o corpo de Linda, que gostava daquela sensação úmida e suave, como um carinho novo, cheio do amor de seu tio admirado, que ela retribuía assustada, experimentando o calor do despertar da sexualidade. Seus pequenos seios à mostra aumentaram a velocidade dos avanços de Fred, arrancando a calcinha de algodão amarela. Toques mais ríspidos e frenéticos até que sua roupa foi parar no chão. Linda iniciou um choro contido, lágrimas abafadas até o lustre de fadas no teto de seu quarto, ao mesmo passo que sua pureza era bruscamente irrompida por alguém a quem ela devia respeito e não cabia contradizer, segundo a educação que seus pais lhe deram, de que os menores obedecem aos mais velhos.


Raquel Abrantes

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