No meio
Quatro cantos no recinto. E nenhum deles era meu. Quatro quadros na parede, todos misturados em mim. Mergulhava nas gravuras e não me encontrava em nenhuma delas. Apenas surfava nas nuvens de Van Gogh e me espraiava nos desenhos de outros menos conhecidos. Conhecer... lançar-se em uma aventura traiçoeira, por sombras de trilhas num pedaço de papel. Quase me perdi nos caminhos pontilhados de impressionistas, mas voltei ao concretismo da sala. A fechadura ilude garantir a segurança de um lar eventualmente explorado. Nenhum trinco é capaz de me tornar refém, nem que seja de mim mesma. Se fosse isso, abriria a porta imediatamente. Afinal, a chave é minha, pelo menos por enquanto. Enquanto pago o aluguel, o condomínio e a conta de luz. Infelizmente, a luz apagou, como tudo que deixa de funcionar, assim, sem mais nem menos, e exige um movimento meu. Como o telefone que parou de tocar e o gás que nada mais acende. Aliás, o cansaço se instalou no meio. E não quer deixar de concentrar a energia restante a seu bel-prazer.
Raquel Abrantes
Raquel Abrantes
Fechaduras...
ResponderExcluirTodas portas não deveriam ter!
Nuvens de Van Gogh, um passaporte para fugir dos quatro cantos do mundo.
ResponderExcluirBjs
Carlos Eduardo
não sei você mas as vezes eu sinto que não pertenço a lugar nenhum. a musica, uma pintura conseguem me levar mais perto o possível do que chamam de casa por ai.
ResponderExcluirAdorei seus textos, continue escrevendo!
um prazer
e essa angústia de viver, essa busca pela pura essência do ser
ResponderExcluirbjs
http://ocaroco.wordpress.com/
a ausência de um espaço que seja apenas nosso e o vazio que isso nos provoca muito bem descrito neste teu texto
ResponderExcluirBelíssimos textos encontrei aqui.Voltarei. Com toda certeza! Parabéns pelo blog!
ResponderExcluirBjs