Labirinto
Como a costura de uma meia-calça de antigamente, vai do calcanhar até as nádegas. E das nádegas até o calcanhar. Olhar vertical insinua o desvio da direção já traçada entre as rotas do dia e da noite. A percepção alcança a intensidade supérflua do relance, mas os olhos insistem em retornar, abertos por tremores enfeitiçados. Tenacidade de uma cintura cingida em carmim de outras terras. Lufadas traiçoeiras ameaçam levantar o vestido da razão, dando margem à imaginação das coxas insanamente vermelhas de tecido. Os conúbios mistos disfarçam sua reza, enquanto gravetos são atirados na lareira do ascetismo. Labirinto de emoções empareda a saída pela esquerda, trilha das desrazões, justificadas em um longo decote ocultado. A atração desenfreada entre o positivo e o negativo, o bom e o ruim, o branco e o preto. Sendo o branco a reunião de todas as cores do espectro, e o preto, a ausência de luz. Uma linha tênue divide o horizonte entre o real e o reflexo, como num espelho d’água. Intenções que decepam a cabeça da harmonia, acendem as fogueiras da inquisição. Pisoteio no largar toda a frivolidade da beleza, para exprimir da uva o vinho essencialmente encorpado, de múltiplos sabores, da madeira ao floral. Abro o caderno das anotações precursoras do hoje, para escrever as páginas do amanhã.
Raquel Abrantes
Raquel,
ResponderExcluirQue caderno de anotações maravilhoso. Creio que nele também estão as costuras de uma meia calça que tecem a "tênue linha que divide o horizonte entre o real e o reflexo" (linda imagem). Aguardo por este futuro caderno com 'as páginas do amanhã'
bjs
C. Eduardo
Nossa Raquel,
ResponderExcluirSuas metáforas tão bem constituidas me fascinam... Divaguei pelos caminhos da emoção em suas palavras. Incrível!
Meus sinceros parabéns pela inspiração.
Abraço.
Quanta coisa cabe em um vestido...
ResponderExcluirMuito bom. Adorei.
Nossa! É disso que eu sempre falo! Me mostro... mas o monstro que assombra a consciência das pessoas "pulam essa"...
ResponderExcluirBjs. Linda