Na última vez



Minha angústia andou do meu lado o dia inteiro... até nos encostarmos finalmente. Na verdade, eu estava pisada. Pisada pela melhor oportunidade da sua vida. Projetos te levaram a um otimismo que nunca fui capaz. As perspectivas derrubavam cada gota restante de segurança que eu pudesse ter (nos meus olhos). Os pensamentos passavam carregados pela sua testa até o meu queixo. Sua irascível reação suprimiu qualquer brilho que restasse em meu sorriso. Quando seus punhos se tornaram mais evidentes que seu carinho, entre ameaças e tons ríspidos, entrei em uma jornada compulsiva para desvendar o mistério do ataque do seu estômago. Não pude crer no que tinha sobrado daquele conversível vermelho que a gente dirigia em meio ao rock e ao pop. Sucumbi de minha revolta em paliativos dormentes, fugindo da recente realidade que estragava o gosto da felicidade. Sua visão me cegou na última vez que te vi. A alegria me esqueceu quando o enfretamento do desejo foi embora. Nosso mundo estava longe... não ouvia nem mesmo um eco. Sua consciência o alertou, entre monstros e bruxas, mas nada ficou em seu lugar. Minha imaginação perdeu a criatividade e, continuando a te querer, procurou te esquecer. A vida tira, dá, e nos torna cada vez mais herdeiros de nossas verdades. Há mares de distância, minha dor ficou incompleta... até se perder nela mesma.

Raquel Abrantes

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