Eco


Sexta-feira vai dormir. O recorte das folhas na mata sobre o vermelho píncaro da noite acolhe os ânimos abandonados. Vento frio aquece a alma ao encostar o rosto.

Ideal, quimera de nascença, deixa sua ausência representada pela esperança... Que (traiçoeira) brota de palavras recitadas, ecoadas através do oceano. Incontrolável desengano.

Talvez o barulho do telefone tocando tenha me distraído de mim mesma naquele momento nostálgico e reflexivo. Ao atender, algo apontou para um calor em direção ao meu peito apesar de ouvir nada. Uma certa familiaridade no ar que respirava eu.

(Alô? Alô?).

(...)

Era nada.

Apenas uma tênue demonstração de saudade, embuçada pelo contentamento com o timbre preciso, arrastado e estonteante (de quem se quer e lhe é determinante).

Em companhia de uma agonia silenciosa deixo-me levar pelo cansaço. Sem resistir, meu corpo se deita. E encaixa.

Horas mais tarde (ou mais cedo), um retorno da madrugada se faz pela recaída da aparição. Enquanto minha ignominiosa paciência atende mais uma vez o aparelho, há quem reage confirmando pulsação. Entre olás e bulícios, a eloqüência de uma torpe voz extenua toda a minha resistência.

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Comentários

  1. Raquel,
    Cheguei ao seu blog pelo orkut de um amigo. Adorei!
    Todo o conjunto, as frases ao lado, o Camus, Ana Cristina Cesar e cada detalhe da sua escrita tao peculiar, intimista e louvável.

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  2. Se tem uma coisa que eu gosto mas não me atrevo de jeito nenhum é fazer poesia. Mas adoro!

    Adorei a visita e o comentário.

    Bjus

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  3. Ola Raquel, muito obrigada pela afetuosa visitinha... Adorei seu blog! Adorei seu jeito imperioso de escrever, se fosse uma folha escrita à lápis aposto que ia ter um monte de rasura, o papel bem marcado... Né, não?

    Beijos!

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