Postagens

Mostrando postagens de abril, 2009

A necessidade...

A evidência de que precisamos da dúvida para viver me afasta da morte, e conforta minha necessidade pelas respostas. Raquel Abrantes

Inominável,

Em cada momento que sua respiração me perseguia, era como se a vida acontecesse. Seu olhar me devastava intimamente, com a camuflada certeza da felicidade. O que se sucedia ao acaso, era verdadeiramente intenso no fazer a dois. Mas não no saber a dois. Os pares se dissipavam na transcorrência dos episódios, que mudavam e transpiravam diferenças na falta de informações cruciais para o alcance da prosperidade. Suscetível aos sabores da consciência parcial, me deixei levar pelo sorriso franco e desleal de uma lembrança distante. Com que amargura te fiz feliz? Com que loucura te trouxe dúvidas em relação à maldade? Fui capaz de estabilizar por alguns segundos suas inconstâncias? Vejo que não era nada que pudesse atribuir a minha capacidade. No decorrer das horas memoráveis, me entreguei ao que supunha poder desvendar. Enganei minha sensibilidade, vestida em determinação e prepotência. Intencionalmente, prossegui na desbravada tentativa de consolidar o inexistente. Me dediquei ao acolhiment

Acaso

Lista de afazeres enorme, horários marcados para a manutenção da beleza, num dia qualquer, numa loja qualquer. Problemas práticos para solucionar, no intervalo dos constantes devaneios. O telefone vibra no bolso interceptando minha vontade, redirecionando meus caminhos e adiando os compromissos em favor de uma sensação indispensável e renovadora. Boas notícias trazem um prazer eventual, mas permanente. Quanto é? Certo, aqui está, obrigada, tenha um bom-dia! Parto em direção à tão esperada paz. Os preparativos me dominam naqueles prévios momentos, enquanto esqueço um pouco do relógio e vislumbro o que terei em breve. Som da campainha, me apresso, vou totalmente e abro a porta. Cumplicidade indiscutível se abraça e dispensa comentários no aproveitamento completo dos minutos que temos a seguir. Gestos que se entendem e correspondem o que é correspondido. Aquela harmonia de percepções delicadas, bruscas, consecutivas, num acaso sempre bem-vindo. Lado a lado das expressões saudosas, estimul
. Deus me deu a dúvida de crer em tudo que ele criou e a chance de criar tudo em que ele não crê Raquel Abrantes

Regras

Olá, seja bem-vindo, entre. Aqui está sua escova de dente, sua toalha. Estenda suas roupas ali, não aqui, por favor, entenda. O seu lado da cama é o direito, o do armário, o esquerdo. Use o sabonete branco e não deixe as coisas por aí, em qualquer canto. Se sujar, não deixe de lavar. Se quebrar, não tem problema, esquece, isso acontece, mas junte tudo com a pá e coloque no saco, enrolado no jornal. Assim não faz mal para quem for pegar. Não esqueça de ligar se for se atrasar e lembre do nosso jantar, depois das dez e antes da meia-noite. Coloque a cadeira embaixo dos pés, enquanto rimos do programa evangélico, me faça cafuné e alivie meu cansaço com um longo abraço. Quando meus olhos começarem a baixar, me leve para a cama, me cubra e pode fazer o que quiser depois, mesmo que não seja a dois. Até que seu corpo peça pelo descanso, que vai falar mais alto num momento, venha para meu lado, sem nenhum tormento, e fique aconchegado. Quero sentir seus braços de madrugada me trazendo de volt

Qual

Pensamentos dominam minha mente com freqüência obsessiva. Aquele desfile por onde ela passa, sua quebrada de cintura acentuando as notórias curvas. Cada fiapo de cabelo erguido para o rabo de cavalo vai libertando pouco a pouco o dragão que mora em suas costas. Aquela figura mitológica que desperta meus instintos mais profundos em sua negritude inanimada... Posso vê-lo atear fogo em meu confinamento. Mantenho a distância. Os objetos que escapolem do sossego de seu abraço, percorrendo o piso, sugerem uma admirável operação de resgate – sempre bem-sucedida. Principalmente para os expectadores do imprevisto, que preferem os bastidores ao papel principal. Talvez por medo, talvez por coragem. Coragem de recusar o que nunca poderia estar aos seus pés. Nem mesmo em sua cama. Na lista de compras do supermercado. Na escolha do longa-metragem de um feriado à base de macarronada preparada a três mãos. Ah, Luana... Luana? Qual... Esta companhia no prosseguimento dos dias, que na incerteza do

A vocês

Desculpem. Em primeiro lugar, me desculpem. Não tinha mais ninguém a quem recorrer neste momento de escravidão e imobilidade social. Tenho tido pensamentos estranhos... preciso de calmantes... talvez um psiquiatra... mas é inviável. Os dias sucedem as noites... que duram uma eternidade até o nascer do sol... atualmente minha única companhia. Sinto como se minha função no cenário tivesse acabado... Vocês me davam uma razão... um motivo. Tenho consciência de que me usavam, mas eu servia para alguma coisa. E era para algo que despertava a alegria dos olhares... É melhor que tirem proveito de nós a não ter nada que confirme nossa existência. Por favor, irradiem novamente oxigênio sobre mim, em meio às palavras transversas e circunflexas da confusão. Se as nuvens ficarem carregadas, em detrimento da leveza, o céu vai chorar, escorrendo todo o pesar até o nascimento das flores... Flores germinadas pela satisfação que vocês emanavam... Sinto falta dos longos debates, fervorosos e inquietantes