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Mostrando postagens de novembro, 2012

Lâmpada

olho para todos os lados mas não vejo o que procuro aquela lâmpada amarela mostra que não sei como funciona até queimar e estagnar não sei como funciona e não restar mais luz e a visão comprometida turva e, de repente, começo a ver para dentro que não sei como funciona vejo uma chama que ainda não se apagou uma chama escondida de uma realidade partida cheia de faíscas e incertezas não sei como funciona abro os olhos doídos de tanto esforço para enxergar e tenho a lembrança de que é preciso trocar a lâmpada que não sei como funciona. Raquel Abrantes
a poesia se perpetua no papel. na vida, ela aparece. Raquel Abrantes

Sonhos

Sonhei que estava acordada nem a cabeça do travesseiro tirei percebi que sempre ando ocupada esquecendo os sonhos que sonhei alguns deles se repetem e transferem-se para a vida real assim como se não quisessem permanecer no mundo astral e de tanto acreditar neles me sinto realizada... porque minha alma se deteve em uma imagem projetada os sonhos na cama e na vida de momentos monumentais trazem a expectativa de legitimarem-se leais. Raquel Abrantes

Utensílio

A incapacidade motora a qual nosso corpo nos impele ao longo de toda a vida nos lembra o pequeno utensílio que somos na passagem dependemos da engrenagem que a cada tanto vai nos surpreendendo nos deixando sem saber se o andar até a praia será prazeroso ou doloroso se o dia de trabalho trará o comum cansaço ou nos deixará um bagaço são tantos planos tantos que deixamos Pagamos um pedágio somos multados pelo uso abusivo do motor que nos aventa e sabemos apenas por onde rodamos hoje Entre as revisões de nosso corpo-máquina tentamos prolongar o tempo útil do aparelho trocamos uma peça recauchutamos o desgaste e o corpo lutando contra o tempo que tem e que não tem infestado de desafios para utilizar ao máximo e com movimentos sagazes os propósitos da mente transferidos aos filhos inevitavelmente. Raquel Abrantes

Ilusão

tive a impressão de que ser grande   bastaria para ter tudo que a vida me daria do que eu pudesse ser mas essa noção de adulto que até estão imaginava era somente a ilusão do que sou agora; um vacilante estremecer E não podia perceber a cada subida à escada que me aumentava me derrubava em degraus rachados pisados em falso Degraus intocados pelo formato padrão isento de adaptações ao descartar o ponto   essencial de cada ser O desrespeito a cada cara a cada tara, característica estranha, medonha, risonha até a percepção onírica que luta em um minuto  pelo outro para aparecer neste vínculo perecível com o mundo desmantelado e necessariamente reconstruído pelo próprio querer. Raquel Abrantes

Despertar

Toca o despertador alertando para o compromisso de alguém que faz o que faz por fazer e os ponteiros seguem pelo dia como sua falta de vontade de encarar a realidade pega o ônibus sem ver o rosto do motorista apenas aquele olá automático ao trocador que não sabe quem é esqueceu de dar um beijo em sua mulher lembra somente no trabalho quando espera pela hora do almoço que acaba rápido e volta para o esforço até chegar ao fim do expediente que o deixa contente sem saber o porquê porque não sabe o que mais pode fazer. Raquel Abrantes

Lucidez

essa lucidez derrama exclama estranha no luar embaçado na sombra da insensatez guia; desvia da percepção existente só é possível fazer  o que se pode assim que este fulgor se adaptar à obscuridade como peças e movimentos estratégicos e concentrados num jogo de xadrez, porque o óbvio não é manifesto geral A maioria costuma censurar o evidente por viciada cegueira que dificulta a troca na próxima jogada; nada é de uma vez Vamos com calma, enxergar primeiro com a mão, que até então ajudou a preparar uma simples lauda com a letra que termina a explanação da jogatina. Raquel Abrantes