Balanço


Lá vem
Lá vai
no balanço da cadeira
o velhinho sorridente
sempre contente...

Rosto ao punho
Cotovelo ao vime
olhos de azuis
que continham o mundo
hospitalidade sem fundo

Recebia sempre com gosto;
gente trazia alegria,
mesmo se não conhecia

No desfolhar do jornal,
recordava histórias hilárias
juventude sofrida, luta diária;
sua bandeira, e
construiu uma família inteira

Regalias tinha por ser primeira
sorte a minha, sorrateira
aproveitava
o balão de hélio soltava
e logo outro ganhava

Leituras escolares não fazia
O velhinho lia e me dizia:
engolia livros, com a mente
traduzia o coração eloquente
Quadrinhos a toda hora!
pantera cor-de-rosa...

Nem aparentava o instinto
militar; somente uma vez
ao pé da orelha, o fez
e ainda o sinto ralhar

Ergueu reminiscências
e nos deixou as consequências
a perdurar


Raquel Abrantes

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