Imanência
A santificação da garrafa de uísque levou a uma empolgação que não cabia mais no apartamento. Era hora de sair. Iridescente como a cortina de miçangas, a dona da casa atravessou o corredor abrindo caminho até a noite, que mal havia começado. Amigos da categoria mais próxima a acompanharam na busca por uma diversão que aliasse todas as expectativas.
Nada era claro, endereços, ruas, e nas várias voltas de táxi pela cidade o motorista ficava mais rico. Pararam. O local indicado, completamente vazio, abrandou o efeito da bebida, que antes fervilhava no tórax.
Com pouca quantia nos bolsos para prosseguir a peregrinação, o grupo hesitou na travessia. As horas fluíam e a insatisfação alarmava a sede coletiva. Bia, até então, tinha fracassado na tentativa de entreter seus visitantes.
À esquina, cintilava uma abertura discreta que chamou pela curiosidade. Bia adiantou-se até o segurança na porta, que arregalou os olhos com a presença daquela mulher que andava por cima do arco-íris.
Era um desses lugares em que o prazer tem preço e sofre a restrição do tempo. Um prazer do qual não há lembranças nem sofrimento, apenas alívio. Satisfação à espera de seus freqüentadores, que deixam a humilhação do lado de fora, enquanto negociam gotas de felicidade.
Autorizada a presença feminina, os amigos exploraram o inusitado da situação: um cubículo ao comprido, no qual paredes enegrecidas se uniam ao banco pintado que acompanhava toda a sua extensão, em um único ser. Ao fundo, um bar assistia ao palco, pouco elevado do chão, que centralizava um mastro de ferro. Os momentos particulares eram reservados ao andar de cima.
Moças exalavam o odor acalorado da profissão, enaltecidas. Uma pequena rodopiava com sua imaginação consumindo o ferro em seus movimentos bamboleantes. Algo já corriqueiro aos clientes da casa, detinha a atenção dos amigos que aterrissaram ali em função de um destino incerto.
A mente de Maurício era a que mais se aproximava à de Bia. Comportamentos espontâneos sobressaíam em suas atitudes, que sugeriam planejamento maquiavélico pela similaridade de pensamentos e opiniões. Juntos, costumavam se divertir pelos mesmos prazeres, sem o temor da reprovação dos expectadores.
Diante do mastro vazio (no intervalo das moças da casa), a sensualidade irradiou através de Bia enquanto os olhos de Maurício reverenciavam o exibicionismo. Era um chamado do palco por suas fantasias encobertas pela impossibilidade – ambos gostavam de receber os holofotes.
A seqüência perfeita de três músicas costurou suas capas de performistas. Os giros revezavam-se contagiando o mastro – eram deuses num parque de diversões improvisado. Ela estava toda ali, com a segurança proporcionada por seu amigo Maurício, e juntos subiram nos devaneios do sangue, largados na sustentação de ferro.
Como estrangeiros no lugar, transformaram o hábito dos freqüentadores em sonhos inéditos naquela noite, sem exigir retribuições. Bia alternou as insinuações de seu corpo, à vontade em meio aos olhares persistentes. Os cabelos voavam descobrindo novos ares; impuros, mas benéficos. E Maurício se libertou das amarras do cotidiano, elevando-se sinuosamente pelo palco.
Carlos e Fernanda compartilhavam seu constrangimento no bar, esboçando sorrisos tímidos, enquanto a espuma da cerveja amenizava sua falta de opção – excluindo a de recusar o convite dos amigos para participar da ousadia.
Em meio à rapidez do evento, a caixa de som elogiou com veemência o desempenho daquela mulher inesperada, que esticava o pescoço para os lados tentando descobrir o dono das palavras – sem se desconcentrar de suas peripécias. As risadas de Maurício acentuavam o destaque daquela voz de exaltação... Até que a entrada do funk enfraqueceu a determinação da brincadeira.
Uns trinta pares de olhos seguiram os dois na descida do palco, instalando certa tensão em sua permanência. O ar sufocava o grupo naquele momento derradeiro, em que as moças (que trabalham ali) estampavam ofensa. Os biquínis brancos retornaram ao mastro, delimitando território e exibindo know how.
Era preciso partir (correndo). A expedição durou coisa de meia hora. Do lado de fora, respirando novamente, os amigos continuavam sem entretenimento – traumas à parte. E o uísque (da barriga de Maurício) não parava de enaltecer a necessidade de prosseguir na madrugada.
Nada era claro, endereços, ruas, e nas várias voltas de táxi pela cidade o motorista ficava mais rico. Pararam. O local indicado, completamente vazio, abrandou o efeito da bebida, que antes fervilhava no tórax.
Com pouca quantia nos bolsos para prosseguir a peregrinação, o grupo hesitou na travessia. As horas fluíam e a insatisfação alarmava a sede coletiva. Bia, até então, tinha fracassado na tentativa de entreter seus visitantes.
À esquina, cintilava uma abertura discreta que chamou pela curiosidade. Bia adiantou-se até o segurança na porta, que arregalou os olhos com a presença daquela mulher que andava por cima do arco-íris.
Era um desses lugares em que o prazer tem preço e sofre a restrição do tempo. Um prazer do qual não há lembranças nem sofrimento, apenas alívio. Satisfação à espera de seus freqüentadores, que deixam a humilhação do lado de fora, enquanto negociam gotas de felicidade.
Autorizada a presença feminina, os amigos exploraram o inusitado da situação: um cubículo ao comprido, no qual paredes enegrecidas se uniam ao banco pintado que acompanhava toda a sua extensão, em um único ser. Ao fundo, um bar assistia ao palco, pouco elevado do chão, que centralizava um mastro de ferro. Os momentos particulares eram reservados ao andar de cima.
Moças exalavam o odor acalorado da profissão, enaltecidas. Uma pequena rodopiava com sua imaginação consumindo o ferro em seus movimentos bamboleantes. Algo já corriqueiro aos clientes da casa, detinha a atenção dos amigos que aterrissaram ali em função de um destino incerto.
A mente de Maurício era a que mais se aproximava à de Bia. Comportamentos espontâneos sobressaíam em suas atitudes, que sugeriam planejamento maquiavélico pela similaridade de pensamentos e opiniões. Juntos, costumavam se divertir pelos mesmos prazeres, sem o temor da reprovação dos expectadores.
Diante do mastro vazio (no intervalo das moças da casa), a sensualidade irradiou através de Bia enquanto os olhos de Maurício reverenciavam o exibicionismo. Era um chamado do palco por suas fantasias encobertas pela impossibilidade – ambos gostavam de receber os holofotes.
A seqüência perfeita de três músicas costurou suas capas de performistas. Os giros revezavam-se contagiando o mastro – eram deuses num parque de diversões improvisado. Ela estava toda ali, com a segurança proporcionada por seu amigo Maurício, e juntos subiram nos devaneios do sangue, largados na sustentação de ferro.
Como estrangeiros no lugar, transformaram o hábito dos freqüentadores em sonhos inéditos naquela noite, sem exigir retribuições. Bia alternou as insinuações de seu corpo, à vontade em meio aos olhares persistentes. Os cabelos voavam descobrindo novos ares; impuros, mas benéficos. E Maurício se libertou das amarras do cotidiano, elevando-se sinuosamente pelo palco.
Carlos e Fernanda compartilhavam seu constrangimento no bar, esboçando sorrisos tímidos, enquanto a espuma da cerveja amenizava sua falta de opção – excluindo a de recusar o convite dos amigos para participar da ousadia.
Em meio à rapidez do evento, a caixa de som elogiou com veemência o desempenho daquela mulher inesperada, que esticava o pescoço para os lados tentando descobrir o dono das palavras – sem se desconcentrar de suas peripécias. As risadas de Maurício acentuavam o destaque daquela voz de exaltação... Até que a entrada do funk enfraqueceu a determinação da brincadeira.
Uns trinta pares de olhos seguiram os dois na descida do palco, instalando certa tensão em sua permanência. O ar sufocava o grupo naquele momento derradeiro, em que as moças (que trabalham ali) estampavam ofensa. Os biquínis brancos retornaram ao mastro, delimitando território e exibindo know how.
Era preciso partir (correndo). A expedição durou coisa de meia hora. Do lado de fora, respirando novamente, os amigos continuavam sem entretenimento – traumas à parte. E o uísque (da barriga de Maurício) não parava de enaltecer a necessidade de prosseguir na madrugada.
Adorei!
ResponderExcluir