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Mostrando postagens de 2014

Mais um ano

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Mais um ano chega se despede de dezembro com pulsão transformadora deixa o que passou em seu lugar quer mostrar a que caminha, sua paixão edificante para despender menos e construir mais perceber em vez de palestrar organizar o que resta confuso eleger os arredores dele mesmo perto, continuamente perto, outros, por falta de mais, que sigam em frente, sempre, adiante cada qual para o lado cabido cada um em seu instante prefere o amor ao ardor o perdão diante da dor a oração que faz sentir na pele a mudança tênue ou evidente para toda gente enfim, um ano para ser melhor que o anterior, como tenta o ser humano a todo novo ano. Raquel Abrantes

contagem

ponteiros se sobrepõem no passar das horas e nada acumulo minutos de ingratidão passíveis de cobrança sempre passíveis de cobrança passivos. passáveis, talvez como o tempo que continua intercalando horas minutos segundos prefiro pensar no intermediário como a meta de equilíbrio na vida assim a culpa se dilui mais depressa não tanto quanto o ponteiro que não para mas o bastante para aguardar as horas em que tudo será retribuído compensado em que poderei mergulhar sem sentir frio em que irei emergir sorrindo e voltar os olhos para quem amo vitoriosa por meu desempenho naquela piscina vazia de gente porque as pessoas estavam aqui ao lado sem cronômetro apenas entregues presentes e os ponteiros serão novamente uma mera burocracia da cidade para aproximar todo mundo evitar desencontros pela falta de sincronia e ocuparei o meu espaço no molhado e no seco mais habitados que antes.                                              

Névoa

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a névoa tirou o brilho de outro sono perdido evaporado pela mente escaldante e consciente na bruma, a paz imensa pode favorecer a crença sem estrelas intrometidas a figura introspectiva dançar de fumaças o silêncio abarca e mostra a alegria do instante, guia. Raquel Abrantes
batidas, freadas movimentos errantes além da rua calçada adentro atingem o passeio de pessoas e bichos em andar adquirido que desviam ou não saem ilesos ou não na mão certa ou contra apenas o vento a favor demasiado leve para o atrito grito! Raquel Abrantes
unha quebrou entrou na carne sangrou a porta que bateu Quem é? quem não importa travessia torta de mau jeito apreço próprio apressado desesperado errou o foco traiu o cenho franziu o certo olhou o teto quase apagou a luz da casa onde caía; vai e vem volta e revolta sem porquês sem outra vez. Raquel Abrantes
lados, teto, chão comichão danada essa farpa que entra no pé naquele piso velho ninguém usa mais e eu ainda tenho pé direito alto também mas nem tanto para escapar do resto do taco usado por todos os lados piso paredes espinhosas tão em desuso quanto escoram o peso do corpo no teto rebaixado vejo aquele lustre engessado ilustrado de luzes demais vidros demais fios demais espaço demais para dois pés descalços para duas mãos ásperas para uma pessoa só com tantos lados quanto aquela casa. Raquel Abrantes
veio, veio e quis ficar se alastrou pelas dobras um tempo irreal tão irreal como eu há alguns minutos à vontade sem nada queixar nem deixar malicioso estúpido resistente nós entrecortados nós entrelaçados ainda agora está como antes inverídica a vinda e a ida para nada por nada de nada não tem de quê. Só um quê perdido sussurra no ouvido transparece nem pesar, pesa e passa, passa... vê na volta o próprio rabo no fim da curva desventura daqueles que Raquel Abrantes

Poesia

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uma letra leva a duas e o número acrescenta mesmo curta a palavra diz entre vírgulas, reticências... às vezes mais que belas frases bem compostas carismáticas escrita acende suas entranhas; como bate para abater (pode rimar com outra ou estranhar a própria) sem trair, atrai sintonias várias pela pulsação conexa e cara. Raquel Abrantes

Sem querer

O lustre balançava ao correr da festa. Sobrevoava meus pensamentos. Ia e vinha, enquanto eu ficava. Sem querer. Ficava por já estar ali. Também oscilante, por dentro. E os ruídos inconvenientes ao meu estatuário momento. Os ruídos também ficavam. Nem foram convidados. Detesto visitas inesperadas. Nem tão intenso esse desgosto. Pode ser encantadora a chegada. Mas aquela(s), não. E meu abrigo, meu amigo, meu parceiro. Quem dera desse um jeito! Via o lustre e ele até parecia alegre, balouçando... Pensando bem – como tive tempo, apesar do desvio do rumo dos meus devaneios (se é que devaneio tem rumo). Devia estar nervoso com aquela agitação. Sua estrutura ameaçada, desvalorizada, suprimida. Sem querer. Faço coisas sem querer. Como uma palavra mal recebida. Quando quero, faço mesmo. E aí recebe quem a quiser. Umas letras perdidas que às vezes acho. Descubro uma frase e me torno real. Mais real que um instante presenciado por muitos. Apesar da festa continuar como se eu não estivesse. R

Ele

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Um deslumbre! Bem torneado, traços finos e definidos, intervalos atraentes entre as expressões. Encantamento instantâneo. Naquela livraria, as estantes perderam o costumeiro sabor. Não conseguia tirar os olhos dele, que não me via. Seu tom avermelhado, corado, marcante. Estava tudo ali. O nome chamava a atenção e, pelo que pude perceber, meio de perto meio de longe, tinha conteúdo de valor. Palavras de arrepiar a pele e expandir o cérebro. Repensar o lógico. Estava apaixonada. Queria porque queria. Mas não era meu.  E continuei admirando, fascinada. Nenhum barulho, distração, gente chegando; nada tirava meus olhos daquela direção. De vez em quando, piscavam, e lamentava o lapso de adoração. Perdi a fome, esqueci o nome do autor que procurava, o tempo me deixou e continuei lá. Estática, sorridente, feliz e frustrada. Tinha que tomar uma atitude. Pelo menos tentar me aproximar. Fazer um movimento... Tomei coragem. Fui até a mesa do café e perguntei à lin

Deserto em cor*

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gosto de ar seco penetra a garganta sob o sol do meio-dia cheio de cor. tons verde-amarelado, azul-acinzentado, branco-leitoso, marrom-rochoso  completam a visão de um mundo árido  e cheio de esperança.  reconstrução contínua que a chuva esparsa permite. o chão duro aquece o solado da botina o sol intenso atravessa lentes de óculos vagamente protetores. as mãos tremem com reticência crescente ante cenário de rara beleza e simplicidade marcante. fecho o diafragma, aumento a velocidade; ansioso retratar dos sentidos do corpo. delimito o quadro, sacudo as calças  pelo equilíbrio, com abdômen contraído e quadril encaixado. clico como jamais novamente. cada foto é em si mesma e parte da natureza. viajo sozinho me perco de mim. * Poema e foto do convidado Ronaldo Ramos . Veja outros ângulos do fotógrafo

minúcias

dita que eu escrevo acho melhor assim você falar pra mim que consigo mesmo vamos tentar mímica pelos movimentos vou me envolvendo já que sobra química veja aquelas pinturas e me aponte algumas passo pela cor da bruma tento ler suas loucuras difícil também? não tem problema faço um poema só lhe quero bem... ah, canta uma música acompanho o tom danço sua expressão desvendo suas minúcias. Raquel Abrantes
Queria dizer palavra escapou fico onde estou são coisas, coisas e dizer, dizer não é meu forte vou sem norte. Tudo bem por aí? aqui é assim quando já vi findo antes do enfim. Flagrante alguém me vê não sei o quê que se ame (pusilânime) Raquel Abrantes

Despedida

esse perder-se esse trancar-se esse em-si-mesmo sem idas nem vindas depois da despedida a mágoa desgraçada a realidade renegada Mas o que foi novamente será; viemos para andar ordenados a sentir até a sombra sumir inundar a vista desabar o tormento: o ardor da vida é iminente (cicatriza a pele retoma a corrente) consentimento que a carne impele. Raquel Abrantes

Distração

me distraio... trabalhos escrevem laudas agendas organizam datas louças deixam seu brilho poeiras libertam a casa me distraio... a estante separa vontades por estilo, tema, autor livros leem meu momento; marcam várias páginas me distraio... o calor solta sua brisa e as cortinas dançam comigo ventos fortes espalham cacos reunidos pela ativa vassoura me distraio... as nuvens desenham o céu de forma branda, acolhedora e visto o sol ao meio-dia natureza que consente admirar. Distraída venço. Desabitada, volto. Sublimo  meu coração ilógico. Raquel Abrantes

Dedicatória

um pedaço de mim mamãe me deu seus traços, seus laços, seu Deus fui criar rabiscos, sonhos ariscos buscar alegria, a melhor poesia mas reconheci a verdadeira arte  na benção da maternidade  Raquel Abrantes

Recomeço

Quando eu morrer Não quero flores Não quero lágrimas Não quero dores Não quero lástimas Quando eu morrer Não me enterrem Não me encaixotem Não me velem Não me devotem Quando eu morrer Lembrem da vida Lembrem da fala Lembrem da escrita Lembrem da cara De quem viveu De quem amou De quem sofreu De quem errou De quem aprendeu (alguma coisa) Quando eu morrer Evaporem minha matéria Deixem fluir meu corpo Sumir cada artéria Esse é o meu gosto Quando eu morrer Só quero chaves Muitas, milhares Em uma caixa Isso me basta Deixem no mar Deixem enferrujar Para que portas Eu, pessoa morta, Possa descobrir A cada novo partir... Raquel Abrantes