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Perguntas

Das perguntas fei(t)as Ficam os son(h)os  Na calada da paz De noite, de dia A busca das horas Mais tarde até Bem que podia Amanhecer achado Com luz de sobra E tempo de espaço Um abraço Uma dobra Que aquecem A resposta fria Raquel Abrantes

Cida*

Cida, cidade de mares, ventos, ares de vistas incomparáveis de natureza admirada muito bem resguardada pelo índio protetor, que olha sempre para o lado de fora Cida, cidade de ruas enfeitadas de gente acostumada à mesma gente que insiste em permanecer nesta casa de muito querer neste lugar de poucos bons amigos dos moços Cida, cidade; a pedra das costas os voos do parque o campo do santo o pouso do disco o passeio das vitrines a cor do caboclo Cida, cidade que cria afetos pais, filhos, netos o médico da família o dono da padaria a banca da esquina aquela boa menina Cida, cidade de aconchegante a alarida aumenta agora despercebida por mudanças urgentes prédios intransigentes carros intransitáveis custos inesgotáveis Cida, cidade fonte de vários arteiros uns loucos sem dinheiro que criam movimentos que movem momentos que aparecem e veem que, juntos, creem nas coisas boas e belas que temos

Grito

Fui abafar o grito ecoou por dentro clamei ao rito ressoou no vento gemi sem querer a respiração falhou decidi ir, viver o coração mandou então os olhos viram detalhes despercebidos e, com a boca, riram dos instantes partidos o brilho de fora tão perto assim a alegria do agora renasceu em mim. Raquel Abrantes

Recorte

Recorto no som um devaneio simples que deixo flutuar no tempo, na hora observo-o, sinto-o lembro sua forma o recorte, o tom as ondas que vibram até colá-lo no momento e deixar que acenda a lua que não vejo, o encaixe do desejo. Raquel Abrantes

Tasco

Algo do que era seu foi passado a mim sem querer me deu e você tirou, assim, coisas que gostou do nosso conviver; o tempo que passou e mudou o seu ser não só de você; de todos eu levo um tasco de querer que comigo carrego algum novo gosto um cheiro, uma cor sempre fica conosco do tamanho que for e a cada pedaço que vou juntando modifico meu traço aumento meu ganho pois o que acabou deixou um bilhete, que impressionou, marca de estilete.  Raquel Abrantes

Gooooooll!!!

Todos olhavam fixamente para a televisão. A bola passava de um jogador a outro, em segundos, indo do campo de um time ao do adversário, e qualquer piscada poderia ocultar o resultado do chute. Melhor não arriscar. Ao redor das imagens, figuras variadas, unidas por um único propósito comum: a diversão. Uma senhora de avançada idade acendia seu cigarro, com tragadas intercaladas aos goles de cerveja, que aumentavam a alegria por ter saído de casa. Tinha razão para isso; era um sentimento bom novamente. Torcer, vibrar, viver além de seu dia a dia já mais vazio, quando o corpo começa a fraquejar apesar do funcionamento acelerado da mente – prêmio concedido pelo tempo. Que passou rápido demais para quem chegou onde ela está, quando os enterros passam a superar os nascimentos, no inevitável limite imposto pela natureza. Mas não ali. No bar, a sensação compartilhada por todos os telespectadores, aliada aos outros prazeres compensatórios da realidade, gerava celebração. Também estavam felizes

A chave

Enfiou a chave na fechadura, pronto para um novo dia. Um dia agitado, véspera de Natal, muito trabalho em seu comércio e depois a reunião familiar mais importante do ano. Virou a chave, mas o trinco não abriu. Tentou virar e revirar, assim como faz constantemente com seus pensamentos, e não saiu do lugar, o que também costuma acontecer com sua vida. Porque, afinal, são muitas decisões a tomar e, ao considerar as consequências de cada uma delas, fica realmente difícil escolher. Neste caso não havia o que escolher se pensarmos superficialmente. Só que dentro da verdade do momento, ele precisava resolver um problema e tinha que decidir como o faria. A princípio, ainda calmo, tentou retirar a chave, mas havia emperrado e nenhuma posição, nenhum jeito, nem o truque de antes; nada adiantava agora. O telefone e a internet da casa nova ainda não tinham sido instalados e o celular estava com defeito há semanas, problema que postergou resolver por motivos que só o inconsciente pode explicar. Er

Amálgama

O que chega e se impõe incita o que despertou; põe o que tem ou tira o que não botou, fecha o que abriu ou abre o que não fechou. Desde abril - maio, junho... mas não agosto A gosto, não. Sim, a gosto em setembro. É um descascar de osso, de membro. Mesmo onde não há desgosto,  posto que crê aquele que vê, como ele, ela eu e você. E as cores aos pares afastam e unem olhares vermelho e avermelhado, amarelo e amarelado: cor-de-burro-quando-foge, apesar de amarrado. Raquel Abrantes

A casa

A casa era da irmã do meu avô. O ambiente tinha um quê de mistério e me seduzia a cada passo dentro e fora dela. Suas portas pareciam mágicas, cada uma levando a mundo diferente, um mundo de conforto, um mundo de inquietação, um mundo de descobertas. Tinha uma porta em particular que era o meu maior motivo para querer morar ali. Ela dava para uma escada sinuosa de madeira que terminava em um mezanino rústico, atapetado e acolchoado. Era um lugar pequeno, mas em perfeita harmonia. Naquelas almofadas ficava estirada e via novos horizontes ao olhar as prateleiras cheias de livros. A luz entrava por uma pequena janela de vidro sextavado, acompanhada por abajures. Todas as paredes daquele lugar, que também lembrava um sótão, eram forradas de prateleiras. Cheias de livros. Precisava apenas admirar para sentir certa bruxaria benéfica, que poderia me afagar pelo resto da vida. A porta que dava para o quarto principal trazia um conforto mais luxuoso. As largas escadas de mármore branco chegava

Raio

Um raio de luz atravessava o céu, resvalando o intuito de afastar as nuvens e desnudar as estrelas. O raio de luz ia e voltava de um lado para outro do outro lado para um nos mesmos pontos. Desse modo não se sabia o início e o fim o fim e o início ou de suas existências. Como o dia e a noite que se intercalam continuamente, sem que os dois salientem uma ordem definida. Os astros foram esquecidos seu brilho sedutor, abandonado por serem aparentemente fixos; apreciava-se o movimento o insistente retorno. O raio de luz (longe de desanuviar os ares encobertos, como à primeira vista) clamava o infinito. Parte telúrico o raio de luz do início ao fim do fim ao início fronteiras adentro. Fissura diáfana até ascender o tempo que monta e remonta entre o dia e a noite entre a vontade e a alma. Raquel Abrantes