Postagens

Mostrando postagens de 2012

Balanço

Lá vem Lá vai no balanço da cadeira o velhinho sorridente sempre contente... Rosto ao punho Cotovelo ao vime olhos de azuis que continham o mundo hospitalidade sem fundo Recebia sempre com gosto; gente trazia alegria, mesmo se não conhecia No desfolhar do jornal, recordava histórias hilárias juventude sofrida, luta diária; sua bandeira, e construiu uma família inteira Regalias tinha por ser primeira sorte a minha, sorrateira aproveitava o balão de hélio soltava e logo outro ganhava Leituras escolares não fazia O velhinho lia e me dizia: engolia livros, com a mente traduzia o coração eloquente Quadrinhos a toda hora! pantera cor-de-rosa... Nem aparentava o instinto militar; somente uma vez ao pé da orelha, o fez e ainda o sinto ralhar Ergueu reminiscências e nos deixou as consequências a perdurar Raquel Abrantes

Lâmpada

olho para todos os lados mas não vejo o que procuro aquela lâmpada amarela mostra que não sei como funciona até queimar e estagnar não sei como funciona e não restar mais luz e a visão comprometida turva e, de repente, começo a ver para dentro que não sei como funciona vejo uma chama que ainda não se apagou uma chama escondida de uma realidade partida cheia de faíscas e incertezas não sei como funciona abro os olhos doídos de tanto esforço para enxergar e tenho a lembrança de que é preciso trocar a lâmpada que não sei como funciona. Raquel Abrantes
a poesia se perpetua no papel. na vida, ela aparece. Raquel Abrantes

Sonhos

Sonhei que estava acordada nem a cabeça do travesseiro tirei percebi que sempre ando ocupada esquecendo os sonhos que sonhei alguns deles se repetem e transferem-se para a vida real assim como se não quisessem permanecer no mundo astral e de tanto acreditar neles me sinto realizada... porque minha alma se deteve em uma imagem projetada os sonhos na cama e na vida de momentos monumentais trazem a expectativa de legitimarem-se leais. Raquel Abrantes

Utensílio

A incapacidade motora a qual nosso corpo nos impele ao longo de toda a vida nos lembra o pequeno utensílio que somos na passagem dependemos da engrenagem que a cada tanto vai nos surpreendendo nos deixando sem saber se o andar até a praia será prazeroso ou doloroso se o dia de trabalho trará o comum cansaço ou nos deixará um bagaço são tantos planos tantos que deixamos Pagamos um pedágio somos multados pelo uso abusivo do motor que nos aventa e sabemos apenas por onde rodamos hoje Entre as revisões de nosso corpo-máquina tentamos prolongar o tempo útil do aparelho trocamos uma peça recauchutamos o desgaste e o corpo lutando contra o tempo que tem e que não tem infestado de desafios para utilizar ao máximo e com movimentos sagazes os propósitos da mente transferidos aos filhos inevitavelmente. Raquel Abrantes

Ilusão

tive a impressão de que ser grande   bastaria para ter tudo que a vida me daria do que eu pudesse ser mas essa noção de adulto que até estão imaginava era somente a ilusão do que sou agora; um vacilante estremecer E não podia perceber a cada subida à escada que me aumentava me derrubava em degraus rachados pisados em falso Degraus intocados pelo formato padrão isento de adaptações ao descartar o ponto   essencial de cada ser O desrespeito a cada cara a cada tara, característica estranha, medonha, risonha até a percepção onírica que luta em um minuto  pelo outro para aparecer neste vínculo perecível com o mundo desmantelado e necessariamente reconstruído pelo próprio querer. Raquel Abrantes

Despertar

Toca o despertador alertando para o compromisso de alguém que faz o que faz por fazer e os ponteiros seguem pelo dia como sua falta de vontade de encarar a realidade pega o ônibus sem ver o rosto do motorista apenas aquele olá automático ao trocador que não sabe quem é esqueceu de dar um beijo em sua mulher lembra somente no trabalho quando espera pela hora do almoço que acaba rápido e volta para o esforço até chegar ao fim do expediente que o deixa contente sem saber o porquê porque não sabe o que mais pode fazer. Raquel Abrantes

Lucidez

essa lucidez derrama exclama estranha no luar embaçado na sombra da insensatez guia; desvia da percepção existente só é possível fazer  o que se pode assim que este fulgor se adaptar à obscuridade como peças e movimentos estratégicos e concentrados num jogo de xadrez, porque o óbvio não é manifesto geral A maioria costuma censurar o evidente por viciada cegueira que dificulta a troca na próxima jogada; nada é de uma vez Vamos com calma, enxergar primeiro com a mão, que até então ajudou a preparar uma simples lauda com a letra que termina a explanação da jogatina. Raquel Abrantes

Canto

Em cada canto em cada tanto tem um tempo um vento um momento um tormento em cada canto da casa sem asa em cada um em cada dois em cada três em cada quatro dentro de um quarto um canto apenas um. Em cada face em cada fase fazendo de um só canto um nó em cada nada em cada escada para baixo para cima estagnada uma hora anda nem que seja nos sonhos na cama que não resiste cantando os cantos de alegrias de tristezas incertezas alegorias o canto do espanto do desencanto cantores de dores de cantos ardores com a solidão vizinha carregando o manto em qualquer canto a alma,  o quebranto você no seu canto e eu no meu e o abandono de um beijo uma conversa uma trégua um canto transverso que os males espanta. cantigas de ninar para animar o espaço inconstante, relutante bem fazer  de mudar de canto pelo menos quatro dentro de um quarto camisa de força  do espaço físico, tísico visando à libertação do interior do canto do ser d

Excrescência

Essa abstinência de contato com o que existe com o que resiste com o que persiste nesta altivez despropositada essa relutância em ver que sozinho nada se faz de nada se é capaz porque viver é depender do carteiro que traz as encomendas do porteiro que recebe os pacotes das pessoas que os enviam  do motorista que leva pessoas a seus destinos do trocador de ônibus que vende a passagem do passante que informa um trajeto qualquer mas este olhar  com soberbana vigilância! ha ha ha, rindo à toa achando que tudo pode aonde foi amarrar seu bode? afinal do início ao final deus criou os homens para um propósito  natal fatal entre gargalhadas e trapalhadas neste alheamento arrogante que um dia aprende a deixar de ser  seu próprio rival nesta espiral da vida que respira que espirra. É um atrevimento ignorar o vizinho! esse orgulho é um entulho  é um disparate, basta! de viver na excrescência audiovisual da autossuficiência. Raquel Abrantes

Se

Se é um momento que não existe. Raquel Abrantes

Aderência

No sobe e desce no vaivém de nossos momentos  aderentes ardentes a ponta faísca por dentro explora o céu aberto e estrelado  a cada desbravada descoberta  do ser interior  que eu mesma desconheço. Raquel Abrantes

Raiar

o dia me chamou com seu primeiro raio de sol e não pude resistir ao seu encontro livre leve solto na luz no ar no mar que bela visão do Rio de Janeiro que tenho o ano inteiro trouxe paz e alegria a um coração alheio ao vento ao tempo ao momento caminhar na areia como uma sereia que acabou de ganhar as próprias pernas arranhando a sola dos pés animados que trouxeram consigo grão a grão no trajeto conhecido pelo chão vivido em busca de um jardim ainda não amanhecido faltaram as rosas mesmo com seus espinhos bem-vindos como a dor que os olhos sentem ao abrirem-se para um novo dia as pessoas da mesma via sempre têm algo a nos dar nem que seja um olhar, um olá uma troca de palavras para começar a rotina que se repete com sua formosura peculiar e a senhora que passou do meu lado puxou conversa, de bom grado vendia pano bordado me encantei e parei a simplicidade de seu jeito me causou um efeito e até seu telefone peguei. a moça com o cachorro que na

Estrela-guia

Elegante e fina com seus olhos de felina mas de ameaça nada há vive em eterno estado de graça em seus cordões dourados que lhe caem abençoados veio para trazer a paz e, quando cansa, ainda faz mais pelos outros por todos para tudo é uma fortaleza, meu escudo contra todas as improcedências age com calma, extrema paciência seu colo, sem dono aparente tem mil pretendentes é uma chuva de lágrimas emoção pura, sem lástima e dela o orgulho que tenho nesta vida, neste desenho é inexprimível, indizível de tanto amor, de tanto calor que grita, cala, sente traz aquele abraço que afaga toda gente passo a passo lado a lado. Uma alma imperativa veio pôr ordem na vida de todos, sempre querida mensageira de luz imponente, parece estridente mas é puro riso agregador envolvente. Mãe de brilhantes instantes de momentos desesperantes oscilante porque preocupada como responsável pela jornada em sua encantadora dispersão tem esta visão, quem diria  por ser uma estre

Coisas

às vezes fazemos coisas demais às vezes, de menos mas sempre fazemos algo para estar onde estamos fazemos coisas por nós deixamos de cuidar de nós ajudamos aos outros quando podemos e, mesmo assim, também esquecemos só que tudo tem seu momento  como plantamos uma flor  e ela tem seu tempo para crescer também temos cada um o nosso próprio tempo de aprender por isso muitas vezes precisamos de alguém e a pessoa não pode corresponder porque não foi possível a ela entender ou, naquele momento, nada mais tinha a oferecer e, nós mesmos, quantas vezes, fizemos tão pouco pelos outros por não nos considerarmos capazes ou por acharmos que não poderíamos acudi-los da maneira que deveríamos pode ser difícil aceitar a falta de quem se precisa e, apesar de ser penoso perdoar, é uma compreensão de vida porque todos damos o que podemos e mais árduo que perceber a limitação alheia  é aceitar a falha pessoal, que é uma cadeia quando deixamos uma pessoa que nos ama

Edredom

esse céu salpicado de luzes me lembra um edredom que tive quando criança fofinho como as nuvens e agarradinho a mim Raquel Abrantes

Consagração

Parte 1 Quando menos se espera um pássaro pousa na janela trazendo harmonia ao nascer do dia a imagem fica na mente devido à sintonia existente num momento inusitado que vem até nós de bom grado e, no outro dia, sem esperar lá está ele de novo, a nos espiar na recíproca verdadeira nesta terra derradeira dos muitos pássaros que voam sobem descem vivem morrem sem conseguir transmitir alegria a companhia, o apoio na travessia pois é para onde não olhamos que, distraídos, percebemos onde estamos e a troca e a sinergia e a beleza e o amor que chega sem voar sorrateiramente porque o sentimento oferecido é o que dá o sentido do colo, do abrigo, do amigo Lembra que não estamos sozinhos que temos o ombro do parceiro o doar-se por inteiro Parte 2 Mais uma vez se fez dia e nada demais parecia apenas aquele vício da consciência quando saímos da dormência somente um bom dia banal segundo a norma convencional mas a desconcentração tem o poder da revelação;

Galho dançante

Quando notei  o descampado à minha frente imaginei que alguém como eu que ali viveu um dia, durante algum tempo segundo o momento que vivia pensou: quero ficar por aqui e começou os preparativos para a nova moradia. Precisou tratar o chão arrancou as ervas daninhas igualou o solo com as mãos e ferramentas e máquinas para criar o fundamento Colocou um tijolo e o cimento depois outro tijolo até erguer uma parede formar uma estrutura uma casa construir um sonho uma vida, já que viver requer pensar para cima. Fez uma guarita colocou as portas e as janelas para a entrada e a proteção do sol e do vento colocou telha sobre telha antevendo tempestades trovoadas e abrigou a família. Embelezou sua vista para que, a cada amanhecer, o jardim cultivado pudesse transmitir um belo recado: de flores, de cores, de odores junto à cadeira de balanço  pendurada no galho dançante  e transpirante no correr do dia  em uma árvore que precedeu esta e muitas

Onipotente

Agradeço não só pela comida mas também pela vida pela família de sangue, de carne, de osso de alegria, de desgosto porque tudo anda na mesma via e juntos buscamos a harmonia nesta transferência de paz de calor, de amor capaz  de ser presente na dor que leva, traz, transforma cria uma família nova cedo ou mesmo tardia que se revela na poesia Raquel Abrantes

Presente

a gente faz planos todo o tempo desde as primeiras percepções da infância fazemos planos, como criança começamos pelos mais simples como ir à praia no fim de semana passar o domingo na casa da avó brincar no parque com os amigos e, nessa fase infante, ainda não é possível entender que muitos planos excitantes não chegam a acontecer pelos imprevistos mais vistos como a chuva que nubla a paisagem como o trânsito que impede a passagem como o resfriado resultado da friagem e vamos replanejando tentando evitar novas frustrações que desconstroem idealizações mas o futuro ao acaso pertence e nada de negativo nisso há sem saber a gente perde para ganhar e os muitos planos frustrados nos levam a contentamentos nunca pensados que tornam a vida uma descoberta incessante do próximo instante em um ciclo que se completa espontaneamente se integra ao permitir florescer  as possibilidades do crescer como a vida que brota dentro da gente e vence todos os planos da mente

Som

o som que transpassa  as batidas ritmadas e aceleradas do coração inquieto lembra outros corações transtornados que transcenderam um momento uma fase uma crase imposta pela regra da gramática tão dispensável que de nada serve ao sentimento real ao sentido do dizer porque o som diz mais que mil preposições que todas as obrigações já que o sentido está no verso no reverso no transverso no gesto no sonoro acalento do diverso na revisão  do íntimo perverso no ínfimo universo de cada ser despreparado para as facetas trancadas esquecidas de uma vida despercebida pela rapidez urgente de uma solução rimada cobrada purista  individualista que passa que perde que não percebe a graça de uma vírgula uma pausa um silêncio que diz: pare e olhe porque a beleza não corre Raquel Abrantes

O amor

o amor surge insólito inesperado como uma rajada de vento acalorada abraçando os poros arrepiados num dia de verão fazendo escorrer o suor fragrante bendito do momento encantado até a brisa refrescante ao entardecer sombrio de cada ser pondo à prova a delícia dos prévios instantes ainda indecifrados de uma conjuntura misteriosa; faça sol, está bem faça chuva, talvez nas trovoadas já tão certas quanto a noite a magnitude é posta a um fio a um sopro a um não sei o quanto pode sustentar-se num passeio ao luar oculto ao mar turbulento suportável enquanto pode enquanto amor enquanto o ar movimenta-se até tornar-se inerte perdendo a febre com a brisa que despede-se por sua própria natureza inconstante Raquel Abrantes

Fumo

esta luz que acende o meu cigarro faísca a palha queima o fumo e enfeita o ar invisível com ondulações acinzentadas de conforto com a ajuda dos dedos amarelados marcados pelo resultado do prazer fugaz perseguido em várias frentes como esta finalizada com as cinzas postas no cinzeiro completo e satisfeito Raquel Abrantes

Quando

Quando ao sentar na varanda de um fim de tarde uma janela ao longe reflete o sol mais que as outras noto a singularidade de um momento que se esvai por uma leve distração Quando volto a buscar o brilho já não destaca aquela forma agora tão simples quanto as outras sem perceber o motivo como o sol que se põe trazendo a igualdade a opacidade prévia da noite Quando as luzes artificiais iluminam todas as janelas da cidade sem critério sem mistério sem mérito apenas um artifício para enxergar na escuridão  Raquel Abrantes

A cidade

os ruídos da cidade circulante perturbadora também têm seus vazios dando espaço ao canto dos pássaros que ainda existem acima do asfalto continuamente maltratado pela velocidade cotidiana de uma meta perversa de um soluço a ser superado de uma perda presente rumo ao futuro incerto infinitamente duvidoso duvidosamente planejado verdadeiramente esperado apesar do atual momento que já passou o canto já passou e o asfalto estanque não permite a passagem nos cruzamentos das vidas errantes gritantes e escassas de melodia  Raquel Abrantes

Experiência

somente uma experiência viva pode nos lembrar o calor do chocolate amaciando a garganta numa noite fria linda exuberante que de tão bela o tempo passa despercebido sorrateiro até o admirar do primeiro feixe de luz de outro dia Raquel Abrantes

Trilogia

muitos procuram definir uns, perdidos sem saber o que, tentam imaginar e elaborar prever o acontecimento ansiosamente esperado temerosamente evitado subitamente conhecido cada caso é um outros maldizem a conquista maculados com o fim da sensação em carne viva química recordação dos poros abertos expostos vazios há quem brilhe em todo canto pelo encantamento do transladar conjunto à parte do fluxo cotidiano e uma parte segue vibrando por esta fascinação indizível puramente vivível e revivível artes e artistas transferem a essência permitem sentir outra vez a satisfação da adjacência a experiência magnífica como a tez musicalmente expressa com poesia, sem pressa fotografada pelos sentidos trilogia vívida em um único corpo além do próprio o reforço de um sonho intimamente crível de deuses caídos de movimentos contíguos de seres finitos infinitamente possível Raquel Abrantes
Como revirar gente a ponto de encontrar gente que se amou nessa gente estranha de dores próprias aquelas que formam  cada gente de maneira peculiar Como aproximar as dores de sua própria origem  até que possam ser esquecidas  por novas dores de característica outra Sem impasse dessas dores  que lembram quem sou até esta última dor até a próxima não sei quem serei estando aqui, nesta forma engessada pelo costume que ainda vai em toda gente como eu e você você com a sua eu com a minha em processo de desfolhamento ou desapropriação quem poderá dizer... E a gente acha importante a dor que tem É o real que a gente leva. Eu que acredito tão pouco sou mais ou menos real? Eu que sinto tão pouco sou mais ou menos gente? Eu que sonho sentir e acreditar amo mais ou menos gente? Em meio a tanta gente a gente procura o lapso de si. Raquel Abrantes

Não sei

não sei não sei porque senta  em frente à própria cova esperando cair um dia Tento de novo depois não, vamos agora logo não sei não sei o que deveria saber o que faço, então? Não faço pego outro livro a prateleira não aguenta mais o peso nem eu  Estudo o caso: a cova que anda todos os dias pelas ruas inserida no ciclo de um mortal um mortal com emprego, família, papagaio e título do clube. que seja. e o que mais? a cova. a cova imprevista porém calculada  como o imposto de renda e os 10% do garçom. é decrescente para menos vida para mais vívida cada vez mais a cova cada vez menos o tempo e, neste caso, a vida tem um pé nos dois Lamento a pegada pretensiosamente programada as vozes que se dissipam antes que se possa ouvi-las a vitória certa de que ganhou Antes quando foi mesmo? não lembro. se alguém disse que viu pode ser verdade quem sabe O banco na calçada ainda tem seu charme o vento no rosto de quem olha para fora para dentro para onde f
Imagem

A folha

às vezes quando a folha cai ziguezagueando as ondas notórias de seu corpo pelo ar intangível no ritmo intrínseco  ao observador as terminações, nervuras terminam seu percurso no solo na grama nas raízes em sua própria origem e seu estado funcional e seu estado decorativo e seu estado poético transformam-se destinando seu leve corpo ao irremediável destino onde salpicam as luzes frementes em cores inconstantes de uma vertigem A folha já não favorece a respiração ao redor; descansa desgarrada no arfante movimento do ser insustentável como quem a observa Raquel Abrantes

Sonoros passos

Sonoros passos me seguem pela casa até o canto escondido do sentimento Sonoros passos a cada pegada foram comigo através do tempo Sonoros passos encontrados perdidos desencontrados de vozes próprias que foram por si um dia impróprias marcaram os dias entranhados deliciosos comemorados entre horas marcadas e instantes macabros marcaram com proibidas doses de acasos futuros  Sonoros passos com firmeza e maciez passados... em lúcida embriaguez voltam de repente. Raquel Abrantes

Público

Cuidado ao andar com homens públicos que tudo expõem à própria revelia isso inclui você, um dia, por estar ali despretensiosamente, desconhecido somente acompanhando um amigo e, de repente, a câmera escondida captura um momento que era seu agora também pode ser meu ou de todos, depende para onde vá pode ser visto por qualquer pessoa homens públicos são vistos lá e continuam rindo à toa... Cuidado ao andar com homens da lei que privilegiam as regras a moral das cavernas a governar as famílias todas a controlar as vontades todas não que todas sejam boas longe disso, mas em casa manda quem mora o problema é o lado de fora... Homens públicos, homens da lei privados reservados sociais todos sem exceção                                 mudam de opinião, ferem a lei mudam também a situação conforme o momento e a lei perde com o tempo seu efeito de aplicação umas coisas que se fez deixam de ser insensatez outras são guardadas