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Mostrando postagens de 2011
A luz piscava intermitente como a certeza daquele dia. O lume espaçado no tempo que seguia apenas enganava o pensamento, estacionado ali. Entre um acender e outro, uma habilidade perseguida, revelar a continuidade do momento, outro dia. Horas traduzidas em minutos, evasivas, melhores a cada clique do interruptor. Raquel Abrantes

Equivalência

O valor do tempo equivale a sua pobreza. À intermitência de fluências escapam por vezes pistas, que surgem convenientes no retrato... congelador de fragmentos, horas, dias, anos ondulados anos-luz do hall de recordações. E a cada segundo ultrapassado, o ponteiro ofusca demasiadas tempestades, que resultam irrisórias perante o que não cabe a nós fazer passar. O que caberia? Deixar o tempo aveludar as tristezas e amarelar o transtorno, a ponto de diluir reminiscências já sem sentido. Aquele fim de tarde tão bem admirado de cima da pedra. Arrepio que já não posso representar. O sentimento tem suas próprias asas, queiram nossas entranhas ou não; mas renova-se todavia, como assim esperamos. Uma sensação mergulha nos ares em vários graus conforme o vento, reunindo, ocupando seu lugar no espaço invisível, para depois dispersar-se. Nas pontas do mapa sem destino, navego breves ilusões de realidade, terra firme entre o passado e o futuro, um conforto entre o que foi e o que haverá de s

Ventilador

Sei que nada mais acontecia além do som do ventilador. Esse ruído não me satisfazia. Meus poros ansiavam ser contraídos pelo efeito catalisador de uma elegante nota. Uma construção melódica que tornasse o ambiente viável. Era um arrastar de plástico que me perturbava. Aquele giro desalinhado que se repetia continuamente. Às vezes piorava... Dava uma engasgada e ocupava mais lugar ainda no espaço, que devia ser meu, meu barulho. Mas eu era um ventilador desligado, que não podia vencer a energia elétrica. Como se quisesse me ajudar, por ser meu, o aparelho simplesmente parou. Foi mau contato. Acontece toda hora. E a partir deste aviso, tive a força necessária para tocar a minha música. Escolhi o artista, o álbum, a faixa e interferi na atmosfera. O ventilador voltou a funcionar, mas o ruído passou despercebido. Preferi cantar minhas letras, sem considerar os outros sons do recinto, tornando-me quase amiga deles, na vitória da harmonia. Tudo fica melhor em paz, e, em sua ente
. momentos se instalam na memória, esquecida de motivos neste lugar que noutros tempos soavam pertinentes à luz daquela manhã já escurecida. a incerteza recobra os sentidos e os sonhos desta noite nada dizem de amanhã... o sono suaviza a beleza de um luar não visto um luar insignificante para este corpo cansado, livre da agonia de existir na claridade das horas inventivas. Horizonte é o que os olhos alcançam; efêmero ponto de vista de plena significação. Raquel Abrantes
. a estranheza de uma dor perdida assim levada como o tempo é percebida no momento em que deveria ser sentida. Raquel Abrantes